sábado, 31 de janeiro de 2009

Opinião de José Castro

Juventude “praxada”

Nas últimas semanas, a comunidade do IPB e o seu círculo mais próximo vivenciou uma intensa discussão sobre o papel, a importância e o significado da praxe académica, bem como as formas que esta tem vindo a adquirir, e as realizações que a têm concretizado. A discussão foi despoletada por uma indignada e bastante “gráfica” descrição de factos presenciados por um docente, factos praticados por estudantes no âmbito dessa actividade. O seu carácter humilhante e escatológico não me permite que aqui reproduza os seus termos; teve porém o dom de suscitar numerosas reacções de docentes e alunos, e saltou mesmo para o âmbito da blogosfera no praxesnoipb.blogspot.com. As reacções foram de todos os tipos, e na sua maior parte, como é costume nestes casos, caiu sempre na tentação dual do contra ou a favor, justificada com uma ou outra imagem ilustrativa da sua posição radical. A reacções de tipo paternalista, na sua maioria de docentes, sobre as consequências do envolvimento dos alunos na sua aprendizagem, caloiros e não caloiros, sucederam-se reacções acaloradas de alunos que, consciente ou inconscientemente, se sentiam cerceados nos seus direitos de opção sobre a sua conduta.

Apesar de tudo, uma parte significativa das reacções foi também no sentido de não julgar o fortuito e acessório pelo relevante e importante da questão. No entanto, raramente afloraram as causas de tais condutas e situações, antes caindo sempre na abordagem das suas consequências.
Mais do que as provações a que os estudantes podem ou não resistir, física e psicologicamente, e as consequências para o seu desempenho académico, o orçamento da sua família, ou o seu conhecimento da cidade, é a consolidação da atitude do “cala e consente” enquanto valor supremo para a integração social que é realmente preocupante; quanto mais se obedecer, executando tarefas sem sentido, mesmo humilhantes, sem questionar o seu sentido e a sua lógica, mais “amigos” se ganham; quanto menos se pensar pela sua cabeça, melhor será “integrado” no meio!

Mas para a tutela, isto não é preocupante. À tutela preocupa antes o “escândalo”, e para o evitar, esta e outras actividades académicas, basta restringi-las, nomeadamente no que diz respeito ao seu tempo de duração e aos locais em que pode ser feito. À tutela não preocupa a predominância das actividades “académicas” absolutamente fúteis e inconsequentes, de tipo festa do “shot”, festa da “loiraça”, ou festa do “strip”, sobre as actividades relacionadas com a participação, o envolvimento cívico, a valorização cultural, e o desenvolvimento individual do aluno, como é apanágio de instituições de ensino superior. Antes pelo contrário, a tutela até acaba de afastar os alunos dos principais órgãos de gestão das instituições de ensino superior, nomeadamente do Conselho Geral, oferecendo-lhes em troca um provedor do estudante, para “ajudá-los” a resolver os seus problemas. Com tal atitude sabe que continuará a subir propinas todos os anos, e a vender os últimos anos das formações superiores com recurso ao crédito, sem que o aluno se importe de iniciar a sua actividade profissional já endividado à banca, em vez de assumir essa dívida perante a sociedade.

Esta é afinal a missão escolhida pelo actual governo PSócrates para o ensino superior do nosso País, o mesmo país em que uma juíza acaba também de condenar dois jovens por anunciarem uma sua realização partidária pintando numa parede, por entre variada publicidade a festas de shot’s, loiraças, e strip’s, a frase “TRANFORMAR O SONHO EM REALIDADE”.